Solidão - alguém na mesma situação?

Boa noite,

Não sei bem por onde começar mas aqui vai

Tenho 29 anos e praticamente não tenho amigos. Sei que não sou a única, mas sofro imenso com isto e nunca pensei chegar a esta idade e dar de caras com este vazio...

Tentei ocupar o meu tempo todo com o trabalho para suprimir a solidão e durante anos trabalhei quase todos os dias inclusive ao fim de semana... Este ano decidi que não ia trabalhar nem ao sábado nem ao domingo e está a ser muito difícil... Dou por mim estupidamente a desejar que chegue a segunda-feira pois passo os fins de semana sozinha e mal saio, porque sozinha não tem piada e aliás já ando farta de andar sozinha... (Desculpem a repetição da palavra! Mas foi um mal necessário:))

Nunca fui muito sociável é verdade e sei que em parte a culpa é minha... mas sei também que as pessoas se afastaram por causa das crises de ansiedade e de pânico e deixaram de me convidar para o que quer que seja... Hoje estou muito melhor e há bastante que não tenho crises, contudo entristece-me o estigma não desaparecer... para terem uma ideia no outro dia uma pessoa mandou-me uma sms e eu comentei que estava doente mas não especifiquei o quê... E essa pessoa perguntou "doente da cabeça"? (Expressão que eu nunca usei nem sei onde foi buscar....acho que finalmente mostrou o que realmente pensava de mim)

Tirando este aparte não sei como sair deste circuito fechado... Obrigo-me a ir a sitios com pessoas para não estar ainda mais isolada... Tb m inscrevi no ginásio.

Penso que não tenho nada de errado e começo a achar que as minhas competências sociais se escaparam para qualquer lado.

E nesta idade parece que toda a gente ja tem o grupo de amigos formados o que torna tudo ainda mais difícil

Alguém na mesma situação?

Boa noite,

Ao ler esse testemunho, parecia que estava a reler a história da minha vida. A única diferença é que eu sempre escondi de todos os meus problemas de ansiedade e depressão, o que levou a não pensarem que era "doente", mas sim antipático, ou até mal agradecido, por andar sempre a fugir e a desmarcar coisas. Seja como for, o resultado é igual, atualmente já ninguém me convida para o que quer que seja e se eu por milagre tomar a iniciativa o mais certo é não estarem muito recetivos.

Concordo que nestas idade os grupos de amigos já estão todos formados e é difícil voltar a entrar num, tendo uma vez saído. Também tentei me integrar em novos grupos, como no ginásio e outros hobbys, mas apesar de conhecer pessoas novas, a verdade é que ao fim de algum tempo estragava sempre tudo por surgir uma nova crise de ansiedade, ou depressiva, que me voltava a fazer afastar e o ciclo recomeçava.

Hoje confesso que preferi desistir, do que continuar a tentar e desiludir-me cada vez mais. Limitei-me aos poucos amigos que me restam e à minha família, que sabem mais ou menos dos meus problemas e aceitam os meus isolamentos de outra forma.

Se estes problemas já por si acarretam um grande sofrimento, a solidão por ela causada talvez seja das mais dolorosas.

Olá Pedro,

Antes de mais obrigada pela resposta.

Eu não consigo resignar-me com isso, pelo menos para já... embora não tarde muito. Aliás é algo que me causa alguma revolta... baixa autoestima e depressão... eu sei que não deveria ser assim, mas é difícil aguentar na mó de cima quando olho para mim sempre sozinha como se tivesse algo contagioso que faz com que ande sempre sozinha... chego a alturas em que já estou "farta de mim mesma"...
O curioso disto tudo é que as pessoas do trabalho não desconfiam da minha ausência de vida social, pois em termos profissionais safo-me bem a comunicar com as pessoas... agora na vida pessoal nada existe.
A minha família resume-se aos meus pais e os amigos são sempre temporários... ainda estou para perceber porquê, talvez por falta de investimento meu mas também deles. Talvez eu não saiba cativar pessoas... às tantas já não sei o que pensar!

Eu não aconselho ninguém a se resignar a isso. Se não só ia andar aqui a desajudar em vez de ajudar. No entanto confesso que eu próprio desisti, depois de me auto-obrigar a pelo menos um dia (sexta-feira, ou sábado) sair de noite por semana e estar com outras pessoas, mas acabava quase sempre por sentir mal em publico e preferir o "comportamento de fuga" e me isolar de tudo e todos.

No trabalho também consigo fingir que tudo está bem nesse campo, e ninguém nota, apesar de 90% dos eventos de grupo lá promovidos eu evitar, indo só a alguns almoços/jantares de Natal. O saldo produtivo no emprego é positivo e também comunico bem nesse ambiente.

Eu comparo isto a uma corda comprida, que se encontra com vários nós, cada problema destes é um, e acabam por andar todos juntos: Os relacionamentos sociais (a falta deles), a pouca autoestima e a depressão.

Isto leva a um problema ainda maior, que se é impossível criar laços de amizade, também se torna complicado manter um relacionamento conjugal, o que por sua vez leva a um estado que também é criticado e julgado pelo resto da sociedade: Como "tem aquela idade e ainda é solteiro", "anda sempre sozinho", etc.

Eu desde de que saí de Portugal e virei emigrante, a minha perspectiva da vida mudou imenso. Há tanta coisa para ver e experimentar, há que sair do casulo, há que tentar mudar um bocadinho o mindset.

Por exemplo, e isto é só mesmo um exemplo, vcs são novos, pq não treinam ai uns mesitos para ganhar forma (talvez já a tenham) e tentem participar em eventos amadores de corrida. Não precisam de interagir com ninguém se não quiserem mas ao menos têm um objectivo, de correr e cortar a meta, num sitio onde vão estar muitas pessoas. É uma forma de interação e podem-se criar amizades por aí.

Ninguém se deve isolar (eu sei que é fácil falar para quem as vezes tem fobias sociais e ataques de panico) mas a somos "bichinhos" que precisamos de contacto emocional e de socializar.

Uma das coisa que também me ajudou muito numa altura foi terapia EMDR feita por uma psicologa.

Olá Ssilva,
O facto de te teres refugiado no trabalho e ocupado todo o tempo nele levou-te a um isolamento...os bons amigos ficam sempre...os outros desaparecem. Estás a precisar de conhecer pessoas novas, arranjar um ginásio...workshops... É preciso que estejas definitivamente disponível

Boa sorte,

R80

ssilva escreveu:
Nunca fui muito sociável é verdade e sei que em parte a culpa é minha... mas sei também que as pessoas se afastaram por causa das crises de ansiedade e de pânico e deixaram de me convidar para o que quer que seja... Hoje estou muito melhor e há bastante que não tenho crises, contudo entristece-me o estigma não desaparecer...

Ser sociável não necessariamente significa ser amigo de todos. É impossível agradar a todo mundo e é muito mais recompensador ter um pequeno círculo de amigos próximos e significativos, do que ter uma centena de amigos medíocres e superficiais.
Lembre-se de sempre tentar ser você mesma e não outra pessoa.

Ser positiva tem um bom impacto nas pessoas.
Lembre-se de sorrir e dizer olá para qualquer pessoa que passar por você. Isso ajudará a quebrar barreiras, irá fazer você ser lembrado pela pessoa e irá encorajá-la a falar com você depois.

Se você acha que não tem interações sociais suficientes, então considere escolher um novo hobby, entrar em um clube ou time de esportes da sua cidade, ou fazer trabalho voluntário. Certifique-se de escolher algo que envolva a interação com outras pessoas.

Não tenha medo de falar com alguém novo! A pessoa pode acabar se tornando um amigo muito próximo. Muito embora possa lhe deixar nervosa falar, faça isso antes que você acabe perdendo alguém ou algo especial.

É melhor manter suas opiniões pessoais como religião, política, aborto, etc, fora da conversa, a menos que a pessoa com a qual está falando esteja genuinamente interessada. Ainda assim, tente manter suas opiniões extremistas para você. Estes tópicos raramente levam a uma conversa agradável.