O Acordar - a minha historia com comprimidos

A médica de família que diagnóstico te fez ? julgo que falaste bem dela, algures num post anterior. Vamos a coisas práticas, seria espetacular formar um grupo de depre, ou distimia  ( e  só mesmo estas patologias,  é evidente que isto não é segregação,mas todas as patologias têm itens e tratamentos específicos e é irrealista tentar agregar bipolar, ataques de pânico, esquizofrenia, surtos psicóticos, etc,etc,etc.)   em que  os elementos tivessem  insight e independência mental  (para ultrapassar estes problemas) e um nível cultural médio a elevado para se ajudarem  mutuamente. Isto pode começar com 2, com 3, com 4 e por aí fora. Para isso os membros teriam  que viver na mesma cidade ou arredores. Eu sou do Porto e só alinho num projeto  adulto, sério, objetivo e para funcionar, tem mesmo que funcionar . A chatice é que por muito que as pessoas se digam muito modernas , a depressão e a distimia ainda são um estigma enorme na nossa sociedade, tem que ser um grupo secreto

O meu diagnóstico não sei. Sinceramente nunca liguei muito a isso das "etiquetas" que os psiquiatras gostam de por as pessoas. Sou como sou e acontece que tenho certas caracteristicas na minha personalidade que me causam problemas, não sei se isso faz de mim doente. Não acho que entra na definição de doença, porque não tem cura é algo que tem que ser permanentemente trabalhado ao longo da vida...

Tenho tendencias depressivas, não tenho propriamente ataques de panico do nada, mas sou ansiosa e por vezes tenho ataques de raiva em que hajo impulsivamente e não controlo as minhas emoções e tenho algumas dificuldades sociais. O meu médico de familia antigo queria que eu fosse a um psiquiatra para averiguar se eu era bipolar, mas depois esqueceu-se e não lhe lembrei para não lhe dar mais ideias, senao saia de lá com uma nova lista de medicamentos, ainda por cima os para a bipolaridade fazem engordar, dispenso lool...

Esta médica é melhor no sentido em que os outros não se preocupavam com aquilo que eu estava a tomar, ia lá pedir e davam-me logo 3 caixas de xanax. A medica, para começar só me passava 2 caixas porque segundo ela é o maximo que se pode passar deste medicamento. E depois quando eu expus que me sentia mal (geralmente deixo uma carta junto com o pedido do medicamento) ela marcou espontaneamente uma consulta para mim e na consulta disse que me queria tirar das benzodiazepinas e achava grave dependencia nisso. Passou-me apenas uma caixa e marcou consulta para o fim deste mes porque quer fazer controlo apertado... Nesse ponto não se limitou a passar como os outros...

Tenho um amigo bipolar que me mostrou o que é a nossa bioquímica e me levou a perceber a distimia, sabes o que é passar do acamado, da tristeza mais profunda, da letargia brutal, da indecisão total, para a euforia extrema, a mania total, a inquietude permanente, as compras sem dinheiro, a superioridade , a verborreia automática e isto num click... imagina o brinquedinho que são os nossos neurotransmissores e a nossa bioquímica cerebral, essa história da personalidade desabou como um baralho de cartas . A psiquiatra andava sempre a baixar a euforia e a subir a depressão num carrossel incrível, claro que existem os estabilizadores, mas o meu amigo...gostava de surfar na euforia (era a pura felicidade),mas arruinava as finanças e a vida familiar. Era a criatividade total, ele escrevia magistralmente, tocava viola e piano, discutia qualquer assunto de religião, a política, a futebol, ou a física quântica e derretia , cilindrava completamente o adversário, a argumentação fluía a 300km por hora e de repente...puf, acamado, indeciso, triste, calado, solitário. Heavenhell, dá que pensar, não achas?

Sim de facto o cerebro é algo bastante complexo...De repente desbloqueava e ficava com capacidades que normalmente nao possuia, quem me dera.lol 

 Eu não tenho essas variações tão acentuadas como esse teu amigo, tenho variações minimas. Há dias em que estou muito triste e sem energia e outros em que estou muito mais animada e alias essa variação pode ocorrer no proprio dia. Há alturas em que me sinto uma porcaria e outras em que sinto a necessidade de me assumir como superior, mas não gosto de dar nas vistas demasiado. Sou obsessivamente controladora em relação ao dinheiro porque ele é escasso, no entanto de vez em quando tenho assim uns surtos e gasto a mais quando não devia gastar, mas depois passo dias a sentir-me culpada e a sacrificar-me nem que seja por 1€ a mais que tenha gasto indevidamente... tenho a mania de jogar bastante em jogos da santa casa (euromilhões, totoloto, então raspadinhas é uma delicia só ontem joguei em 5 saiu-me premio a todas LOL). Para mim é uma forma de aliviar a pressão, quando sinto que a minha vida não tem saida ou quando estou sufocada pela falta de dinheiro, recorro a isso, mas também sem grandes descontrolos... Basicamente tenho sempre dicotomias em mim porque insisto em analisar sempre as coisas e ver os dois lados. 

Não acho que seja bipolar, na altura disse isso ao médico e ele concordou que não achava que eu era mas que tinha receio que ao longo dos anos pudesse evoluir para tal, mas duvido. Tenho surtos de impulsividade porque passo a vida toda a reprimir-me devido a regras sociais estupidas. Só que não é possivel uma pessoa reprimir sempre sentimentos e quando o faz mais tarde ou mais cedo explode de forma incontrolavel... É uma forma de aliviar, mas seria muito mais produtivo aprender a lidar com as coisas na hora aprender a deixar de reprimir assim controlaria mt melhor a impulsividade. Sou instavel porque fui criada num ambiente instavel e ainda não consegui encontrar o meu equilibrio, senão não andava por aqui em foruns deste tipo...

No entanto sintomas como descreves que esse teu amigo tem em que troca assim para extremos do nada são mais graves até pelas implicações na vida. E em termos bioquimicos são curiosos como é que uma pessoa passa de 8 a 80...

Pois essas variações acontecem nos bipolares, o tempo de variação das fase maníaca e da fase depressiva é que não é igual de doente para doente. O que é impressionante é verificar a influência da bioquímica cerebral nas nossas atitudes e comportamentos, eu gostava de conviver com ele na fase alta, porque a vida era uma festa e o mundo não tinha limites e eu agarrava-o à terra    ele tinha um estatuto social elevado e as pessoas endeusavam-no, mas claro a família preferia vê-lo em baixa, pois as finanças estouravam e acabaram mesmo por estourar. Devo-lhe o compreender as fragilidades mentais, até aí eu não tomava medicamentos, achava que era  uma forma de alterar a minha personalidade (deixava de ser eu próprio) : eu filósofo, niilista, existencialista, nietzche e cioran como ídolos, a melancolia era a imagem de marca. Não posso também esquecer um outro amigo que padecia de esquizofrenia paranóide e que  faleceu precocemente . Eu sempre escondi deles os meus padecimentos, mas felizmente numa reunião de Natal e troca de prendas , a minha prenda foi um poema em que confessava a minha depressão e o meu sofrimento, foi uma festa... passamos a tratar-nos por os três mosqueteiros. Serve este post para os homenagear e para lhes agradecer a minha sobrevivência . Mas vou ficar por aqui porque o 1º mosqueteiro só pode estar com Deus ; o 2º está estabilizado, mas não estou com ele há muito tempo e o 3º está aqui a deprimir o pessoal  do fórum.   Amigos foristas um grande abraço e cuidem-se. E bora para a frente .